Espalhando cultura pela periferia do Rio de Janeiro

A peça narra as peripécias de cinco jovens - Yasmin, Suelen, Diego, Estela e Gustavo -, que formam um grupo de artistas itinerantes aos moldes dos populares "trenzinhos da alegria", cujos componentes animam variados tipos de festas, como aniversário, formatura, inauguração de super mercado, e campanha de eleição, entre outras,  personificando figuras icônicas dos quadrinhos e da TV, como Popeye, Betty Boop,  Pinóquio, entre outros.

O grupo, já em vias de dissolução, partiu para realizar a sua última viagem juntos, percorrendo o subúrbio do Rio de Janeiro, áreas onde residem as pessoas mais humildes, e onde o acesso a cultura ainda é difícil. Ao longo da jornada, enfrentaram questões pessoais urgentes e algumas surpresas que mudarão os rumos de suas vidas.

Um desses acontecimentos repentinos se deu quando estavam retornando de um dos eventos do dia, e acabaram  por atropelar um cidadão.

Para solucionar, foi preciso muita lábia para se livrar dos policiais. Primeiro, por Estela, a motorista, ex-presidiária e que ainda usa tornozeleira. Em segundo lugar, por Yasmim, mulher que possui um filho em criação e tinha que retornar para casa. E, depois de serem liberados pelos policiais, eles tinham que se livrar do cadáver. Tal fato expressa que, mesmo nas situações difíceis, eles estavam conectados e unidos.

Uma segunda cena da peça a ser destacada é aquela em que a caravana vai se apresentar para celebrar um aniversário, e ao som da música Parabéns, conhecida pela interpretação de Pablo Vitar, o personagem Diego faz uma apresentação arrebatadora, com traje bastante extravagante, bem purpurinado. É uma catarse total! Uma celebração!

O espetáculo é bonito e divertido, jocoso e comunicativo, uma linda homenagem aos artistas itinerantes que se apresentam nos bairros periféricos da cidade do Rio de Janeiro.

O grupo é constituído por cinco integrantes:

Gustavo é representado pelo ator Paulo Verlings, que usa a cabeça de Pinóquio. No grupo, ele é conhecido como Bigodinho de Ouro por seu bigode descolorido, dá aulas de dança para idosos e faz bico na caravana como animador de festa fantasiado de Pinóquio. Filho de mãe solo, decide investigar o paradeiro do seu pai. Gosta de pedir dinheiro emprestado aos colegas, e paga atrasado.

Por sua vez, Yasmin é interpretada por Carolina Pismel,  que incorpora o Ursinho Pooh. Ela faz uma sacoleira, garçonete, cartomante, massagista, animadora de cruzeiro, dançarina de axé, ilusionista, e guia turística. E, cria sozinha o filho pequeno, que precisa levar para a caravana.

O terceiro integrante do grupo é o Diego, o popular Tina Turner, que é interpretado por Jefferson Melo, que incorpora o personagem Popeye. Ele faz o dançarino, iluminador e figurinista da caravana. Faz cover de Tina Turner. E, gosta de “montação”, brilhos e plumas. Uma pinta só! Seu namorado gringo pediu sua mão em casamento, com passagem só de ida para Austrália.

Estela é representada por Julia Marini,  que incorpora o Coelho Perna Grande. Ela é a motorista da caravana. Ex-presidiária, cumpre sentença com tornozeleira eletrônica. Perdeu a guarda do filho, e sonha voltar a conviver com ele. Vive com Gustavo uma paixão avassaladora.

E, finalmente, Suelen é representada por Kenia Bárbara, e incorpora a Betty Boop. Ela é antenada nas redes sociais, e ostenta uma vida inventada. Sonha se casar com um homem rico e virar herdeira. Passista de escola de samba do grupo de acesso, trabalha como vendedora de cosméticos num shopping.

Os cinco atores (três mulheres, e dois homens) se apresentam de forma esfuziante, uma animação total, bem no espírito de uma caravana de artistas, que pelas ruas desejam levar arte e cultura para os espaços cariocas mais afastados da sua região central. Com alegria e empolgação, irreverencia e transgressão, eles cantam, dançam, e divertem o público com suas histórias e aventuras, utilizando uma linguagem popular e de fácil comunicação. Estão ajustados e sintonizados,  e dominam o texto com perfeição. Eles se doam de corpo e alma no palco.

O texto de Jô Bilac apresenta uma linguagem popular, local, suburbana, bem popular, deixando transparecer o tom de festa e de celebração que a peça tem. Afinal, numa caravana de artistas que vai propagar a arte e a cultura não pode haver tristeza!

O espetáculo é dirigido por Paulo de Moraes, o qual muitos aplausos merece por sua ótima direção, imprimindo em cada um dos personagens a marca da diversão e da alegria.

A cenografia criada por  Carla Berri e pelo diretor Paulo de Moraes preenche o fundo do palco com caixas de som multicoloridas e decoradas por luzes de led. As caixas emitem o som das músicas que animam os eventos da caravana.

Um carrinho de supermercado foi transformado numa carreta, como as que transportam as trupes em suas viagens, numa dimensão reduzida, também decorada por luzes de led.

Os figurinos criados por Carol Lobato são adequados, e as grandes e coloridas cabeças dos diversos personagens de TV e da literatura infantil, confeccionadas pela própria figurinista e por Alex Grilli, são bonitas e bem reproduzidas.

A iluminação criada por Maneco Quinderé cai como uma luva para cada cena, diversa, exata e correta.

E, para finalizar, a produção tem a competência de Ártemis Amarantha.

Caravana Alucinada é uma peça bem produzida; apresenta um elenco compacto, forte, e animado; e, uma direção competente.

Ótima produção cultural!