As Paisagens de Zerbini

A exposição é a primeira grande retrospectiva do artista, que é um dos nomes mais expressivos da arte contemporânea brasileira, e integrante da chamada geração 80. São cerca de cento e quarenta obras, sendo algumas inéditas.

As paisagens constituem o centro da obra do artista paulista. Elas ocupam um lugar especial na sua arte de pintar, transcendendo os limites da pintura para se manifestar em múltiplas linguagens e experimentações. São vários tipos de paisagens, todas elas ficcionais, produto da sua imaginação, como paisagens naturais, históricas, sociais, políticas, entre outras. Para o artista, "viver é ruminar paisagens".

A curadoria dividiu as obras em cinco núcleos.

Na primeira parte Viver é Ruminar Paisagens, ganham destaque duas obras: Lago Quadrado, e High Definition.

High Definition (2009) é uma obra em formato quadrado, grandiosa, deixa transparecer a verve naturalista do pintor. Repleta de troncos, folhas e flores coloridas e espaçadas, com o mar azul do fundo e um céu nublado. Paisagem ficcional. Detalhista. Tem mais luz.

Lago Quadrado (2010) é um quadro que também deixa transparecer a vocação naturalista do artista.  Repleta de troncos, folhas, flores como bromélias, espada de Sao Jorge, frutos. Cores fortes e vibrantes. Ao fundo, um vale em variado tons de verde, e o arco-íris. Pintura com elementos mais amontoados. Mais escura.

Na segunda parte O Lugar de Existência de Cada Coisa, ganham destaque as pinturas Onda, e Mar do Japão.

Mar do Japão (2011) é uma tela em formato retangular. Da janela com persianas o pintor visualiza a paisagem. Observa o mar com sua espuma branca e o mar verde. Repleta de raízes, troncos, folhas verdes e amarelas, e flores em tons de rosa. Na parte superior da tela treliças repletas de plantas. Linhas e sombras caracterizam a pintura.

Onda (2014) é a representação de uma onda do mar, repleta de manchas circulares e retangulares, em tons branco, preto, cinza, e verde água.

A tela Gavião (1976) é a obra mais antiga de Zerbini exposta. Apresenta um indivíduo sem roupa dependurado no gradio da varanda de um apartamento pronto para cometer um suicídio. Da varanda se observa o conjunto de prédios, toda a verticalidade da cidade, e quer se lançar sobre ela.

Na terceira parte Da Natureza Alegórica da Paisagem, ganham destaque as pinturas Botafogo, e Primeira Missa.

A tela Botafogo (1998) deixa transparecer a violência na cidade do Rio de Janeiro, em plena areia da praia. No centro da tela um policial apontando uma arma, e banhistas deitados na areia branca. Há também um frequentador da praia sentado. Esta se apresenta com objetos como chinelos, pedaço de pau, tênis, sapato, entre outros dejetos. No céu esparso de nuvens, observa-se a beleza da paisagem do morro do Pão de Açúcar, e o mar da praia de Botafogo. Há colagens na pintura como chinelos, sapatos, pedaço de pau.

A tela Primeira Missa (2014) é uma pintura que retrata um fato da história do nosso país. Este fato já foi retratado por outros pintores como Victor Meireles, na época do Império, e Candido Portinari, na República. E, Zerbini também nos brinda com a sua versão.

Na tela de Zerbini observa-se uma nativa e o Infante, Dom Henrique, envolvido por uma jiboia e mãos acorrentadas. Há outros nativos em posição de prontidão e espiando atrás das árvores. Não estão pacíficos. Visualizamos uma embarcação com colonizadores portugueses. A natureza é farta. Muitas árvores e seus troncos apresentam elementos decorativos. A fauna local com papagaios e pássaros.

Também observamos um altar com a cruz. No fundo, o azul do mar.

A quarta parte tem como título Eu Paisagem. E ganha destaque a tela Doce Ilusão.

A tela Doce Ilusão (2023) apresenta folhas multicoloridas, fortes, e vibrantes. É um amálgama de cores e formas.

A quinta parte tem como título Não é Só Sobre O Que Se Vê, na qual destacamos Frevo (2019).

A tela Frevo deixa transparecer a relação ritmo e arte. O colorido das sombrinhas circulares dando ideia de movimento. Apresenta um colorido intenso. O artista brinca com a interpretação visual de ritmos.

A exposição é contemplativa.

O público alvo são os artistas do campo das artes plásticas, embora qualquer pessoa que admire telas e quadros podem visitar.

Além dos quadros, há também esculturas, objetos, monotipias, instalações e vídeo.

Paisagens Ruminadas é uma exposição com uma curadoria forte; apresenta telas e quadros bonitos, coloridos, e ricos em detalhes; e um artista irreverente e ousado.

Excelente produção no campo das artes plásticas!