Entrevista com a artista plástica teuto-brasileira Laura Figueiredo-Brandt

Laura Figueiredo-Brandt está no Brasil para sua primeira exposição individual “Entremundos” no dia 29 de junho.

Laura é uma artista que incorpora em suas obras a rica fusão de suas raízes brasileiras com sua vida na Alemanha. Nascida em 1962 no Rio de Janeiro, ela tem residido na Alemanha desde 1991, onde construiu uma carreira artística marcada pela liberdade de expressão e pela constante exploração de formas e cores.

Quando se deu o seu interesse pelas artes plásticas?

Digamos que, a partir 5ª série, as aulas de artes plásticas com dois ótimos professores e exposições no colégio despertaram meu interesse. Além de pintar e desenhar, adorava colecionar aqueles calendários com pinturas, usava o cartões das barras de chocolate como telas, enfim a

paixão e associação da reutilização de materiais ja vieram desde cedo.

Os quadros na nossa casa também sempre tiveram um papel importante, muitos deles acadêmicos , mas minha admiração era voltada principalmente para os abstratos. Esses últimos não costumava ver na casa das pessoas. Eles me faziam pensar muito, era uma viagem ao desconhecido. O que ele pensava quando pintou aquela obra. Alguns amigos perguntavam aos meus pais se éramos nós, filhos, que havíamos feito aqueles rabisquinhos, aquelas manchas. Eram quadros do artista Manabu Mabe que me fizeram conviver e crescer com o abstrato naturalmente.

Qual é a sua formação? Quais são as suas principais referências teóricas e práticas no campo das artes plásticas?

Tranquei após dois anos meu curso de Geografia na PUC e fiz minha primeira viagem para Alemanha. Após um ano retornei e resolvi trabalhar.

Em 1991 voltei para a Alemanha e em 2001 queria muito pintar. Mesmo com os filhos ainda pequenos resolvi procurar um curso de pintura próximo, o de aquarela. Em 2008 quis aprender outras técnicas, achava que não era ainda a aquarela. Iniciei um curso durante um ano onde pude ter história da arte, aprender varias técnicas como gravura, escultura, desenho, papier mache, pintura acrílica, tornando-se esta última sim a minha paixão.

Desde então participei continuamente em cursos/workshops de três artistas da região Reno-Neckar que foram fundamentais na minha formação da seguinte forma:

Wolfgang Beck - a minha liberdade de expressão;

Ingrid Westermann - minha escolha por um caminho entre abstração e figuração;

Gunda Kupfer - na minha aproximação aos grandes formatos e ao universo da cor e particularmente o aprendizado de xilogravura - técnica da matriz perdida.

O que é ser uma artista plástica? Quais são as características do seu fazer artístico?

É me expressar através da minha pintura, o meu olhar, minhas sensações… ser realmente livre, não estando preocupada em agradar ou me ajustar a nada.

As etapas do meu fazer artístico se iniciam a partir do meu entorno. Fotografo muito para registrar tudo o que possa me inspirar. Também existem temas que sugerem desenvolvimento de projetos.

Com frequência um tema dá origem a séries podendo ser em diferentes técnicas como por exemplo na pintura acrílica, colagem e xilogravura.

Como você conceitua a arte?

No século 21 definir um único conceito de arte é praticamente impossível. Vejo a arte como expressão e imaginação de cada um sem que haja limitação de parâmetros. Matisse escreveu para Bonnard num cartão  “Viva a pintura!”, meu lema é: Viva a liberdade na pintura!! Há espaço para o belo, o chocante, o bruto, inovador, questionador... enfim livre.

Você reside na Alemanha. Como está estruturado o mercado para o artista plástico neste país europeu?

O mercado na Alemanha para artista plástico, principalmente para os que não vêm de formação acadêmica, é mais árduo. Para tentar conseguir ter acesso à galerias/exposições é preciso pertencer a uma associação de artistas onde se promove a conexão no mundo da arte e a rede de apoio mútuo.

Quais foram as suas principais exposições?

Para mim a principal exposição foi participar numa Mostra em Paris em 2022 na qual pela primeira vez me confrontei com um público  fora das minhas origens culturais: Brasil e Alemanha. A importância dela foi realmente tomar coragem aos 60 anos de começar a expor minha arte nas redes sociais, ou seja, para todos.

Como você define a sua primeira exposição individual no Brasil?

Considero a exposição “Entremundos” um marco na minha trajetória artística. Era um projeto para 2024 que está sendo concretizado. A escolha do nome reflete uma fusão cultural e pessoal, onde exploro temas de identidade, pertencimento e a experiência de viver entre mundos diferentes. A minha arte é o resultado do meu hibridismo cultural, Espero que esta exposição possa transmitir a minha liberdade na pintura, crucial para mim.