As Cópias do Imperador

O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro inaugurou a exposição Eckhout: Trânsitos do Olhar com curadoria de Paulo Knauss

Escrito por
Alex Gonçalves Varela
Fotos:
Divulgação
Maré Alta - Belém adormecendo nas margens do Guajará, 2023

No século XVII, os holandeses invadiram o nordeste da América Portuguesa. A Companhia das Índias Ocidentais nomeou como governador o conde João Maurício de Nassau, que atuou nos domínios holandeses de 1637 até 1644.

Na Cidade Maurícia do Recife, ele tomou várias iniciativas e trouxe para a região várias missões artísticas e científicas, procurando criar um ambiente cultural semelhante ao que se desfrutava na Europa.

Dentre os artistas que para cá vieram está o pintor Albert Eckhout, que representou em suas telas paisagens locais, natureza morta com flores e frutos do novo mundo, além de nativos e animais exóticos.

Algumas dessas pinturas feitas por Eckhout, faziam parte dos presentes brasileiros enviados por Maurício de Nassau-Siegen a Luís XIV, em 1678, e serviram de modelo para as famosas tapeçarias de Gobeljns, produzidas entre 1687 - 1730, com o título de Petites e Grandes Indes.

As pinturas de Eckhout foram as primeiras convincentes para a representação, na Europa, da fisionomia e do físico do nativo brasileiro.

Na segunda metade do século XIX, no Império do Brasil, no Segundo Reinado, o Imperador Dom Pedro II, amante das artes e da cultura, realizou uma viagem a Dinamarca.

Um dos objetivos da viagem era conhecer as imagens produzidas por Eckhout sobre os nativos brasileiros, e que foram comentadas por Alexander von Humboldt em sua obra intitulada Cosmos.

O Imperador após visualizar as aquarelas encomendou ao pintor dinamarquês Niels A. Lutzen versões em tamanho menor em relação aos originais. As réplicas seriam doadas ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) e as imagens seriam divulgadas no Brasil.

Na exposição estão exibidas as imagens dos nativos tupis e tapuias, e de uma mulher mameluca. Também há um quadro com um conjunto de nativos com lanças na mão no meio da floresta. São imagens do exótico, do "outro", até então desconhecidos do olhar europeu. E, o Imperador trouxe em réplica o exótico para os habitantes do Império Brasil terem conhecimento dessa imagens. As representações de coisas nossas devem estar entre nós. É o que nos singulariza.

Estão também expostos o Livro Cosmos, de Alexandre de Humboldt, de 1847, onde os desenhos de Eckhout foram comentados. E também uma medalha de Alexander von Humboldt.

São expostas também imagens do mapa  Praefecturae Paranambucae Pars Borealis, de William Jannszoon Blaeu, de 1647.

E visualizamos também o livro do holandês Caspar van Baerle, de 1647.

No século XX, as telas de  Eckhout continuam a ser admiradas e passam por novas leituras. São reapropriadas por outros artistas, como Nay Jinknss.

Nas telas da artista paraense aqueles elementos retratados pelo pintor holandês são reapropriados e aparecem não mais em Pernambuco colonial, mas no mercado de ver o peso, em Belém do Pará, em pleno século XXI, espaço com o qual a artista tem intensa afinidade. Eles, portanto, passam por uma nova ressignificação, por um "transito do olhar", uma nova discussão sobre a questão da colonial idade.

Num dos quadros da artista paraense chamado Maré Alta o grupo de nativos é retirado da floresta e colocado encima de uma embarcação sob o olhar atento de um paraense, que sentado, olha aqueles gentios.

O olhar do paraense da imagem não mais é o olhar do europeu. Nayla é defensora de uma prática fotográfica que não reforça estereótipos, sobretudo no contexto amazônico. Ela defende em suas imagens a complexidade social, a diversidade do povo. Busca assim afastar as referencias eurocêntricas, tão presentes nas imagens produzidas pelo olhar estrangeiro. Propõe acabar com a ótica branca, para combater o racismo estrutural da sociedade brasileira, para assim reparar. Dessa forma, as fotografias de Nayla tem um papel decisivo nessa função, e que fica bem claro em suas apropriações das telas de Eckout.

Também é exibido o vídeo Maré Alta: o imaginário está atrás da porta, de Nay Jinknss, de 2024.

Eckhout: trânsitos do olhar  é uma bonita e reflexiva exposição; tem um curador forte e atuante; e  nos apresenta as cópias das telas de Eckhout encomendadas pelo Imperador e as apropriações dessas imagens por artistas contemporâneas e suas ressignificações.

Excelente exposição de artes plásticas!
MARÉ BAIXA - Carlos e o poderoso Tambaqui, 2024.
MARÉ BAIXA - Edson e o açaí do grosso, 2024.
MARÉ BAIXA - Josy e Barnei na feira do açaí, 2024.

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