Uma Interpretação de Si Mesmo

O monólogo protagonizado pelo ator Paulo Betti em que o próprio narra sua vida, se autorizando a si mesmo a apresentá-la durante a sua infância e a adolescência. Entrelaçam-se a sua memória individual e a familiar, brindando a todos com um espetáculo bonito, poético, emotivo e com uma interpretação digna de louvor.

Paulo Betti narra a sua infância até aos dezoito anos de idade nas cidades de Rafard e Sorocaba, interior de São Paulo, as condições em que foi criado, os seus sonhos, a sua família simples e humilde com os quinze irmãos. Narra as histórias de seu avo, um imigrante italiano. As ações de sua mãe e seu pai.

Portanto, histórias que ele vivenciou, viu e ouviu, mas também aquelas que lhe foram contadas pelos seus familiares, de forma oral, atravessando gerações a gerações, legados da sua ancestralidade.

Mas, o texto construído pelo próprio Paulo é produto também da sua escrita, das suas anotações em um caderno, do registro das suas experiencias pretéritas.

Na narrativa do texto, Paulo também nos apresenta objetos materiais que ele preservou, como um pião, o facão para abater os suínos, entre outros.

Portanto, para construir o texto ele uniu memória, escrita e objetos, elementos que foram associados para narrar a sua linda vida de menino, simples e humilde, lá na roça, mas de uma grandeza extrema.

Conforme já comentamos, Paulo se concentra em sua infância e adolescência. Contudo, ele comenta também de algumas experiências com rádio e dublagem, mas não faz referencia aos personagens que interpretou no cinema e na televisão. Essa lacuna em nada diminui o texto. Foi uma opção do autor- ator.

A atuação de Paulo é de tirar o chapéu. Nós o conhecemos de notáveis atuações na televisão, no cinema, e no próprio teatro. E mais expressivo ele está ao interpretar a si mesmo. Ele apresenta uma linguagem que é facilmente compreensiva, nada de rebuscamentos, se comunicando bem com o público, com pitadas de humor e emoção, descendo inclusive do palco e conversando e brincando com a plateia.

A direção é de Juliana Betti e Rafael Ponzi que focam no texto, e deixam o ator a vontade no palco, livre para interpretar a si próprio.

O figurino criado por Leticia Ponzi é simples e adequado, vestindo o ator camisa e calça brancas. No final do espetáculo, vai ao varal e pega um avental e coloca um chapéu, lembrando um camponês, um trabalhador do campo, suas origens.

A cenografia de Mana Bernardes é perfeita e adequada. Há um fundo branco que serve como tela de projeções de inúmeras fotografias. Como parte desse fundo branco, há uma tentativa de reconstrução da sua casa, simples e modesta onde nasceu e passou a infância. E, ao lado, há um varal com roupas estendidas e plantas.

A iluminação criada por Dani Sanchez e Luiz Paulo Neném realça e embeleza ainda mais a figura de Paulo.

Autobiografia Autorizada é um monólogo com um excelente ator; com um texto que narra a vida de um indivíduo que lutou para superar as dificuldades da infância; e, um cenário que serve de tela para exibir projeções com fotografias da sua memória individual e familiar.

A seguir, será apresentada nas sete unidades da CAIXA Cultural espalhadas pelo Brasil.