Um Romeu Preto e de Rocha Miranda

Romeu e Julieta é uma peça de teatro escrita entre 1591 e 1595 pelo inglês William Shakespeare que aborda o romance entre Romeu, da família Montecchio, e, Julieta, da dos Capuletos. Filhos de famílias inimigas e movidos por uma paixão arrebatadora, eles se casam secretamente, pois é um amor impossível. E para manter a união, eles cometem um suicídio e se mantem unidos na eternidade. As famílias que antes viviam em discórdias, passam por um momento de paz.

O texto de Marcus Camelo se apropria da trama do bardo inglês e a relaciona à trajetória de vida de Camelo, um indivíduo preto, que nasceu no bairro de Rocha Miranda, localizado no subúrbio carioca, região sem opções de área de lazer e de cultura.

Naquela área geográfica da cidade pouco apta às produções culturais é o local em que que Marcus e sua família vivem. E foi naquele espaço íngreme àquelas atividades que o autor-ator se interessou pela carreira de ator, se apaixonou pelo teatro. E tal como a história de amor impossível de Romeu e Julieta, Marcus se fascinou por uma profissão que na região onde vivia era impossível também de se concretizar.

Mas, ele foi a luta. Enfrentou estereótipos e preconceitos, inclusive dentro da sua própria família. Resistiu! E em sua trajetória de vida o amor impossível se tornou possível. Ele se tornou um ator, e no palco pode interpretar Romeu.

Quem diria que um indivíduo preto, humilde, morador do subúrbio carioca, iria interpretar um personagem de uma tragédia conhecida mundialmente, de Verona, um principado italiano, de linhagem de uma família tradicional, os Montecchios?

O impossível se tornou realidade. E lá está Camelo no palco interpretando Romeu, dizendo ao que veio, mostrando voz ativa e personalidade firme. Ele domina o texto e o palco. Se comunica bem com o público, por meio de uma linguagem simples e fácil. Apresenta uma interpretação firme e consistente.

Inclusive canta, toca pandeiro, dança, enche bolinha de aniversário, e realiza acrobacia no latão. É vibrante, e passa emoção.

A direção é de Cecília Viegas, que deixa o ator a vontade no palco. Ela foca no texto.

O figurino criado pelo próprio ator é simples e adequado. Ele usa um terno cinza claro, com gravata vermelha, e camisa social cinza.

A cenografia é simples e funcional, constituída por um tapete, um latão vermelho, e uma espera onde fica um pandeiro. O tempo inteiro do espetáculo o ator interage com o latão, subindo, deitando e rolando com o mesmo.

A Iluminação criada por Júlio Coelho e Marcos Camelo é bonita, adequada, e realça a atuação do ator nas diversas cenas.

Eu, Romeu. Protagonismo Periférico apresenta um ator com uma boa atuação e um excelente potencial artístico a ser desenvolvido; uma forte comunicação do ator com a plateia; e, um texto original e bem desenvolvido.